CBDP: Um novo canabinóide que oferece novas possibilidades
O mundo dos canabinóides está a sofrer uma revolução com a descoberta de novas moléculas com potencial ainda desconhecido. É o caso da descoberta do canabidiforol (CBDP), um canabinóide homólogo ao CBD, que poderia ser o protagonista de novos estudos científicos sobre a planta.
Esta descoberta é muito recente e foi mais ou menos fortuita. Assim, foram investigadores italianos os responsáveis por localizar este canabinóide na composição da planta da canábis enquanto tentavam definir o seu perfil de fitocanabinóides.
A descoberta não chegou sozinha, pois este mesmo grupo de cientistas conseguiu localizar outro novo canabinóide, conhecido como THCP, que por sua vez é homólogo ao THC, o canabinóide psicoactivo das plantas de Canábis. É por isso que podemos falar de uma dupla descoberta a partir da qual ainda há muita investigação a ser feita.
No artigo de hoje iremos oferecer os pontos chave da descoberta deste novo canabinóide, o CBDP, e iremos também discutir o que a ciência diz sobre esta descoberta neste momento. Para tal, serão explicadas as características conhecidas do CBDP, bem como os usos potenciais que a ciência pode encontrar nele.
CBDP: o novo fitocanabinóide descoberto pela ciência
O CBDP ou canabidiforol é um fitocanabinóide. Os fitocanabinóides são canabinóides que aparecem naturalmente na planta da canábis. Os canabinóides clássicos são formados através da descarboxilação dos seus respectivos ácidos 2-carboxílicos (2-COOH), um processo que é catalisado pelo calor, luz ou condições alcalinas.
Por outras palavras, o CBDP é um novo canabinóide presente nas plantas de canábis sobre o qual ainda não temos a mesma informação que temos sobre CBD ou THC. Foram descobertos mais de 150 fitocanabinóides até à data, embora o facto de terem sido descobertos não significa que tenhamos muita informação sobre cada um deles. Assim, apenas um pequeno número destes 150 canabinóides foi estudado e sintetizado até agora.
Para a descoberta do CBDP foram utilizadas algumas das técnicas mais avançadas que existem para esta finalidade, como é o caso das últimas tecnologias que existem no campo da espectometría, que consiste numa análise aprofundada ajuda a identificar os compostos ainda desconhecidos na planta da marijuana.
A principal diferença entre o CBDP e o CBD é que o CBDP utiliza uma cadeia lateral mais longa, com sete ligações na sua estrutura, em vez das 5 ligações que o CBD tem. Mas… Porque é que isto é revolucionário? Porque os canabinóides com mais de cinco elos nesta cadeia lateral ainda não se detectaram na planta da canábis
Contudo, este facto afecta o CBDP de uma forma diferente do que o THCP. Assim, este grupo de cientistas italianos demonstrou que a cadeia lateral alongada do THCP parece ter uma afinidade ainda mais forte para o receptor CB1 do que o THC normal, sugerindo que pode fazer o seu trabalho de forma mais potente.
Quando os investigadores testaram a afinidade de ligação do THCP nos receptores humanos CB1 e CB2, descobriram que o THCP era 33 vezes mais activo que o THC normal no receptor CB1 e 5 a 10 vezes mais activo que o THC normal no receptor CB2.
No entanto, no caso do CBDP, a história é diferente, uma vez que o CBD tem uma baixa afinidade de ligação aos receptores CB1 e CB2 e não parece ser razoável pensar que uma cadeia lateral mais longa pode ajudar o CBDP a ligar-se mais eficazmente aos receptores do corpo.
No entanto, como os investigadores salientam, a ciência pode deparar-se com grandes surpresas e a investigação futura pode demonstrar que o CBDP tem qualidades terapêuticas ou uma potência oculta que é actualmente desconhecida. Neste momento, isto não se pode afirmar, e só podemos esperar pelos resultados do estudo.
Poderá ser legal o uso de CBDP?
É difícil a priori determinar se este novo grupo de canabinóides como o CBDP será regulado em algum momento em países como Portugal. As analogias podem ser feitas com o CDB. O facto é que o CBD não está registado como um suplemento alimentar pelo INFARMED.
Portanto, todos os produtos contendo CDB não podem ser classificados como suplementos dietéticos. Isto talvez possa ser extendido ao CBDP quando houver mais informação sobre este canabinóide, e não significa que o CBD ou o CBDP sejam ilegais, mas sim que não é permitido ser distribuído como um produto próprio para consumo humano e que se destina apenas a uso industrial.
Isto pode dificultar o estudo de novos canabinóides como o CBDP em países como Espanha ou Portugal, que em muitos casos terão de ser cultivados para fins industriais a fim de poderem ser estudados em profundidade. Em países onde a legislação é mais laxista, como nos Estados Unidos e na Holanda, é possível que se possam realizar estudos mais detalhados sobre estes compostos, e que a população possa fazer uso terapêutico ou recreativo do CBDP mais cedo do que noutros países.
A descoberta destes novos canabinóides abre uma perspectiva muito esperançosa mas incerta. A futura investigação será responsável pela determinação dos possíveis usos que estes canabinóides possam ter. A fim de medir os riscos e possíveis usos terapêuticos destes fitocanabinóides, são necessários muitos testes laboratoriais.
Além disso, a descoberta tanto do CBDP como do THCP é importante porque sublinha a evolução que a indústria da planta da canábis tem vindo a sofrer nos últimos anos. Não só está a ser realizada investigação para obter novas variedades com canabinóides activos e melhores propriedades organolépticas, mas também existe um compromisso de investigação e desenvolvimento para obter novos canabinóides que possam trazer rigor aos estudos científicos sobre a canábis no campo terapêutico.
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