Guia de Degustação de Canábis | Como provar a marijuana?

O trabalho do degustador de Cannabis é bastante semelhante ao de um degustador de vinhos. A pessoa que exerce esta profissão encarga-se de provar cada um dos vinhos e de determinar, através da sua transparência, aroma e sabor, a qualidade do vinho, sem nunca se embriagar demasiado. Da mesma forma, o degustador de Cannabis é capaz de provar o efeito e o sabor da marijuana, procurando não exagerar, pois se o efeito for demasiado intenso, não será objetivo na prova seguinte. Neste artigo, contamos alguns truques que os degustadores utilizam para provar a fundo diferentes variedades de marijuana. Continua a ler para saber tudo sobre como degustar a marijuana.

Importância de conhecer, distinguir e escolher

Importa destacar que as variedades do Cannabis são bastante amplas. Por exemplo, enquanto algumas provocam um efeito poderoso na mente, o sabor no paladar é bastante insípido. No entanto, o contrário também é verdade: há algumas variedades que podem ter um sabor excelente, mas cujo efeito é fraco, de forma que só podemos sorrir e agradecer educadamente à pessoa que nos o oferece.

De facto, alguns especialistas na matéria afirmam que existem pessoas que têm uma habilidade inata para distinguir o sabor e o aroma entre muitas variedades. Tanto é que essas pessoas são muito procuradas para a elaboração de perfumes ou no setor vinícola. Contudo, o resto de nós podemos educar, refinar e melhorar, na medida do possível, a nossa capacidade de determinar o sabor e o efeito da marijuana. Apresentamos alguns pontos-chave para saber como degustar a marijuana.

Efeito de subida e efeito de descida

A primeira coisa que devemos considerar numa degustação de marijuana é o que conhecemos como o efeito de subida e de descida que a erva pode produzir. Podem ser distinguidas, pelo menos, duas classes: as ervas UP, que têm um efeito estimulante, e as ervas DOWN, que possuem características mais sedantes.

No caso das ervas sativas, estas tendem a estimular as emoções, fazendo com que a pessoa se torne mais sociável e aberta. Por outro lado, as ervas índicas produzem efeitos mais relaxantes graças ao seu elevado teor de canabinoides. Um exemplo de sativa estimulante (UP) é Super Silver Haze e um exemplo de índica relaxante (DOWN) é Sensi Star.

Por isso, neste artigo, referir-nos-emos às ervas UP como aquelas que nos ativam mentalmente para o trabalho, e às ervas DOWN como aquelas que nos relaxam tanto que, por assim dizer, nos deixam colados ao sofá.

Mencionaremos também as expressões corpo e mente para referir-nos às experiências que o Cannabis produz. Igualmente, é muito certo que uma colheita tardia ou precoce pode alterar os seus valores.

Duração do efeito da marijuana

Outro aspeto importante na degustação é a duração dos efeitos da marijuana. Algumas variedades podem ter um efeito de cerca de 15 a 30 minutos, enquanto outras podem prolongar-se até 6 ou 7 horas. Técnicas como o momento certo da colheita, a secagem correta e a cura adequada influenciam a qualidade e a duração do efeito.

A tolerância ao Cannabis

Outro aspeto destacado na degustação da marijuana é a tolerância. Isto refere-se ao grau de habituação do organismo a um determinado tipo de marijuana, permitindo continuar a experienciar a mesma sensação que se obteve desde o primeiro uso. Uma erva com alta tolerância exigirá uma quantidade maior para alcançar o efeito desejado, enquanto uma com baixa tolerância permitirá desfrutar da experiência de forma constante.

O ápice do sabor

Durante a degustação, é vital conhecer o limite ou “teto” da tolerância ao sabor. Isto indica quantas caladas se podem realizar sem que se perca a perceção do sabor. A maioria das variedades índicas atinge o seu ponto máximo após cerca de 10 caladas, embora se recomende não exceder 4 ou 5 para evitar efeitos indesejados, como irritação na garganta ou tosse. Aproveita bem as primeiras caladas, pois a combustão pode reduzir a perceção dos matizes.

Efeitos colaterais na mente

Um dos aspetos finais a considerar na degustação da marijuana são os efeitos colaterais na mente. Algumas variedades podem causar ansiedade ou amplificar certas emoções, enquanto outras podem suprimí-las. É importante ter em conta que esses efeitos variam consoante a variedade e a predisposição do consumidor. Em geral, a melhor marijuana é aquela que produz a menor ansiedade.

Aroma e sabor do Cannabis

O aroma e o sabor são imprescindíveis para determinar o quão desejável pode ser uma erva. Existem inúmeros perfis sensoriais no Cannabis. De facto, embora ainda não se tenha conseguido elaborar um mapa olfativo completo, os estudos sobre terpenos permitiram classificar os sabores em categorias tais como:

• Frutado: morangos, pera, ananás, frutos silvestres, amoras, etc. Marihuana com sabor frutado.
• Cítrico: limão, laranja, toranja… Marihuana com sabor cítrico.
• Terroso: terra molhada, madeira, envelhecido, pastoso, com sabor a fumo. Marihuana com sabor terroso.
• Vegetal: verde, clorofilado, erva. Marihuana com sabor herbal.
• Químico ou inciensado: metálico, com aroma a querosene, oleoso, adstringente. Marihuana com sabor inciensado.
• Complexo: uma mistura de vários dos anteriores. Marihuana com sabor complexo.

Com toda esta informação, apresentamos a seguir os passos para realizar uma degustação da marijuana nas melhores condições e com a maior precisão possível.

Como provar a marijuana: Um guia completo

Cada um destes pontos servir-te-á como guia tanto para preparares a experiência de degustação como para a realizares corretamente. A seguir, fornecemos detalhes para que possas compreender melhor cada um dos passos.

Ambiente e Preparação

Antes de te imergires no mundo sensorial do Cannabis, é crucial preparares o cenário. O teu ambiente e a tua preparação podem influenciar significativamente a tua experiência de degustação. Procura escolher sempre o mesmo local, calmo e limpo, e presta atenção a aspetos como:

Temperatura e humidade

Mantém a humidade em torno dos 60% para que os teus sentidos olfativo e gustativo funcionem de forma ótima. Humidade excessiva pode diluir tanto o aroma como o sabor.

Luz ambiente

A luz natural é ideal para observares as verdadeiras cores da flor; se isso não for possível, uma luz LED branca pode ser uma boa alternativa.

Superfície de avaliação

Utiliza uma superfície limpa e de cor clara para colocares a tua flor de cannabis. Isto ajudará numa melhor avaliação visual.

Método de degustação

Independentemente de usares um vaporizador ou um baseado, o método escolhido influenciará os sabores que percebes.

Preparação prévia

Evita o uso de perfumes fortes e de alimentos aromatizados (como o café) antes da degustação, pois podem interferir com os teus sentidos. Utiliza fósforos de madeira em vez de isqueiros para evitar que os sabores a gás afetem o sabor.

Curiosamente, muitos degustadores afirmam que o paladar é mais receptivo por volta das 12:30.

A degustação da marijuana

Agora que tens tudo preparado, vamos à parte central: a degustação da marijuana.

Degustação Sensorial

A degustação sensorial implica o uso de todos os teus sentidos para avaliar o Cannabis, obtendo informações valiosas de cada um. A seguir, são descritos os principais aspetos a avaliar:

Aspecto

Observa as cores vivas, a densidade dos botões e a presença de tricomas brilhantes e bem definidos. Um aspeto descuidado, com botões esmagados ou cores tostadas, pode indicar problemas no cultivo, na secagem ou na cura.

Sensação tátil

O botão deve sentir-se denso, pegajoso e com um peso considerável, o que indica um elevado teor de tricomas. Ao pressioná-lo ligeiramente, deverá apresentar uma dureza inicial seguida de uma textura esponjosa no seu interior.

Aromas

Inspira profundamente para apreciares o espectro completo de aromas. Cada variedade possui um aroma característico, mas também pode ter matizes subtis que se percebem com diferentes intensidades. Procura cheirar a flor sem a queimar, para captares todos os detalhes.

Degustação

Existem duas modalidades de degustação oral: a degustação a frio e a degustação a quente. Para a degustação a frio, aspira do baseado ou do vaporizador sem o ligar, o que te permitirá apreciar detalhes que se perderiam ao aquecer o material. Em seguida, procede à degustação a quente, tomando um pequeno trago e deixando que o sabor evolua na boca, notando os matizes na entrada e na saída.

Degustação dos Efeitos

Depois de avaliados o aspeto, a textura, o aroma e a degustação, é importante analisar os efeitos. Recorda que a experiência é subjetiva e pode variar de pessoa para pessoa. Considera o seguinte:

Efeito principal

Determina se a erva é estimulante ou relaxante, ou se apresenta uma mistura de ambos os efeitos.

Intensidade e duração

Observa a rapidez com que os efeitos se iniciam, quanto tempo atingem o seu pico e quando começam a dissipar-se. A intensidade do efeito costuma estar relacionada, principalmente, com o teor de THC, embora outros compostos também influenciem.

Efeitos secundários

Tem em conta quaisquer efeitos secundários, como boca seca, tonturas ou mal-estar, que possam variar consoante a variedade e o método de consumo.

Tolerância ao Cannabis

O nível de tolerância do consumidor também influencia a experiência de degustação. Consumidores habituais podem necessitar de um período de pausa para apreciar plenamente os matizes de cada variedade, enquanto os novatos devem começar com doses baixas para evitar que a intensidade ou a rapidez do efeito mascarem os detalhes sensoriais.

A experiência é, em última análise, muito pessoal. Só com a prática é que se pode tornar num degustador experiente.

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Informação Adicional e Evidência Científica

A avaliação sensorial do Cannabis partilha semelhanças com a degustação de vinhos, mas possui também características únicas, derivadas da sua complexa composição de terpenos e canabinoides. Estudos científicos demonstraram que a sinergia entre estes compostos, conhecida como “efeito entourage”, influencia a perceção do aroma, do sabor e dos efeitos do Cannabis.

Por exemplo, Russo (2011) mostrou como a interação entre terpenos e canabinoides potencializa a experiência sensorial, enquanto Hazekamp e Fischedick (2012) explicaram que as diferenças nos perfis químicos (ou chemovars) explicam a vasta variedade de sabores e aromas do Cannabis. Além disso, ElSohly (2017) destaca a importância dos métodos de cultivo e pós-colheita para preservar a integridade sensorial da planta.

Consejos Prácticos para una Cata Óptima

• Prepara o ambiente: Assegura-te de que o local de degustação esteja limpo, com uma iluminação adequada e com a temperatura e a humidade controladas.
• Evita interferências: Não uses perfumes fortes nem consomes alimentos aromatizados antes da degustação.
• Utiliza utensílios adequados: Emprega uma superfície branca e limpa para avaliar a flor e, se possível, utiliza ferramentas que não alterem o aroma.
• Regista as tuas observações: Toma nota de cada fase da experiência (aspecto, aroma, sabor, efeitos e duração) para comparares e melhorares a tua perceção.
• Prática constante: A degustação sensorial melhora com a experiência; cada sessão ajudará a afinar os teus sentidos.

Referências

• Russo, E. B. (2011). Domando o THC: potencial sinergia do Cannabis e efeitos entourage de fito-canabinoides-terpenoides. British Journal of Pharmacology, 163(7), 1344–1363. https://doi.org/10.1111/j.1476-5381.2011.01238.x
• Hazekamp, A. & Fischedick, J. (2012). Cannabis – from cultivar to chemovar. Drug Testing and Analysis, 4(7-8), 660–667. https://doi.org/10.1002/dta.421

Perguntas Frequentes (FAQ)

Brais Nieto

Fundador da Experiencia Natural, criativo e empreendedor, designer, mestre em cultivo e marketing. Por uma normalização de todas as plantas e substâncias com os pacientes e utilizadores em primeiro lugar.