As 3 Utilizações da Marijuana segundo o Doutor Grinspoon

A marijuana para o lazer

O psiquiatra Lester Grinspoon estava convencido de que a marijuana era extremamente danosa. Queria fazer entender aos jovens qual a razão pela qual era proibida. Sendo um doutor e professor da Universidade de Harvard, em 1967 propôs-se a fazer uma rigorosa investigação que lhe permitia demonstrar cientificamente os grandes perigos que aconselhava para os dissuadir de a consumir. Quem teria dito que acabaria por se tornar num activista da marijuana!

Quanto mais investigava, mais ficava surpreendido pelo baixíssimo nível de toxicidade da marijuana. A evidência não apenas não sustentava a sua hipótese inicial mas sim o contrário: negava-a. Não podia acreditar como é que a grande parte da população mas sobretudo ele mesmo, com a sua experiência científica e medicinal, tinham acreditado no que o governo dizia. Tinham conseguido lavar-lhes o cérebro baseado em desinformação e acusações infundadas. Deste trabalho surgiu Marijuana Reconsidered, livro publicado em 71.

Neste estudo concluiu que a marijuana para uso recreativo não apresentava nenhum risco real, e que a proibição desta droga era totalmente absurda. O perigo não é a marijuana mas sim a forma de como a sociedade reage face a este tema. Centenas de milhares de pessoas detidas por ano por consumirem marijuana era um despropósito: centenas de milhar de pessoas e famílias destruídas pela criminialização, somado às centenas de milhões de dólares do tesouro público iam embora nestas operações.

A marijuana para a saúde

Também em 67, a um dos seus filhos, Danny, foi-lhe diagnosticado leucemia com apenas 10 anos e a quimioterapia começou a destrui-lo fisica e animicamente ao ponto de querer abandonar. Nessa altura um oncologista contou a Dr. Grinspoon um caso de um adolescente que, numa situação similar ao do seu filho, fumava marijuana antes das sessões de quimio e tal anulava por completo as náuseas e os vómitos. Mas Grinspoon descartou esse teste com medo de entrar na ilegalidade. Por sorte, a sua esposa não pensava da mesma forma.  

Umas semanas mais tarde chegou uma nova sessão de quimio do seu filho e ficou surpreendido ao vê-lo rir e contar piadas. Ficou até sem fala quando sairam: em vez de vomitar e ir para a cama pediu à sua mãe para irem dar um passeio. E eis que com a ajuda da sua mãe, Danny tinha fumado um pouco de marijuana antes de ir à sessão. Lester alucinava com o efeito imediato que tinha provocado. Deste modo e pouco a pouco começou a interiorzar-se nas propriedades medicinais da Canábis e foi descubrindo as suas potencialidades.

O doutor Lester Grinspoon estudou durante muitos anos as propriedades medicinais da marijuana e descobriu que em vários casos curam e aliviam dores de forma muito mais eficaz do que com qualquer outra medicina, sobretudo em casos de dores e problemas musculares. De facto, considera que é a planta milagrosa do nosso tempo pela quantidade de aplicações que possui e porque para além das maravilhas da Canábis, nunca matou por overdose de marijuana, é directamente impossível devido à sua baixa toxicidade. Algo que não se pode dizer nem das aspirinas.  

A ilegalização da marijuana naquele ponto representa um problema pesado, com várias caras: por um lado, nega-se o acesso de uma cura para a doença a vários doentes. Para além isso, faz-se com que recorram à indústria farmacêutica, onde deixam muito dinheiro que possivelmente lhes darão uma medicação menos eficaz e com efeitos secundários. E o mais cruel é que aquele que decide consumir marijuana para a sua doença vê-se exposto a uma dupla ansiedade: a sua própria doença mas ao mesmo tempo o facto de estar a fazer algo ilegal podendo ir assim para a prisão.

Há já várias décadas que Lester é um activista reconhecido da legalização da marijuana e autor de mais de um dezena de livros sobre o tema. O mais reconhecido foi o que publicou em 93 juntamente com James Bakalar: Marijuana, a medicina proibida. Como parte das suas actividades tem o blog RxMarijuana, onde há perguntas e respostas sobre os usos medicinais da marijuana, e uma extensa compilação de anedotas sobre o tema. 

O negócio da farmacología

Nestes últimos anos, a marijuana como droga medicinal tem ganho muito terreno e há companhias em EE.UU. e na Grã Bretanha que fabricam pastilhas como Marinol e Sativex. A primeira é basicamente THC sintético, imitando um dos princípios activos da marijuana, e a segunda diz ter todas as propriedades de marijuana mas sem o efeito nem as consequências respiratórias do fumo. 

Por um lado a Canábis pode ser inalada através de um vaporizador, o que elimina a inalação de fumo e os riscos associados para os pulmões. Mas sobretudo, é o conjunto de componentes que faz com que esta planta seja maravilhosa, e o próprio efeito faz parte do aspecto medicinal, entre outras coisas porque relaxa e remove a ansiedade.

Por outro lado, nenhum dos medicamentos sintéticos produzidos consegue o mesmo efeito que se obtém quando se fuma marijuana; de facto a maioria dos doentes que os provaram dizem que não lhes faz nada. Fumar marijuana tem um efeito instantâneo e muito mais eficaz do que ingerir um composto sintético via oral.   

Para além disso, estes remédios são muito caros. E mais, se conseiderarmos que para além de comprar marijuana, qualquer pessoa pode plantar a sua própria planta. Ou seja, as drogas que possuem THC sintético não têm nenhuma vantagem relativamente à planta natural, excepto por um detalhe: são legais. 

Tudo isto, mais do que ser um passo dado em frente na abertura do debate sobre a legalização, pode ser um passo dado atrás. Sendo a legalidade que sustém o negócio é óbvio que as farmacêuticas farão de tudo para impedir a legalização. Por outro lado, estas medicinas legais serviam como desculpa para que o governo pudesse evitar o debate sobre a legalização: podem dizer que avançaram nesse ponto ao permitr as pastilhas. É uma forma de desfazer-se do problema. 

Oxalá que nos próximos anos possamos ver mais avanços medicinais através da marijuana, mas sem que as farmacêuticas se intrometam entre os doentes e a sua medicina. Os principais estudos que se estão a fazer no momento estão relacionados com os componentes de THC e de CBD desta planta, que em função dos seus níveis e combinação podem produzir efeitos mais adequados para um ou outro doente. Nesta mesma linha de investigação está a CBD Crew a trabalhar, onde participam alguns peritos em marijuana tais como Shantibaba ou o próprio Howard Marks.

A marijuana para pensar e criar

Para além do seu uso recreativo e medicinal da marijuana, Grinspoon destaca outra aplicação valiosa, a qual lhe chama "intensificação". Refere-se ao modo como a marijuana actua na percepção e no pensamento, coisa que levou anos a descobrir visto que nunca tinha provado um charro até ao que aconteceu com a experiência do seu filho. A partir daí descobriu como a marijuana lhe abria a porta a uma série de sensações e percepções das quais normalmente não conseguia aceder. 

Por um lado, destaca a capacidade de entender ou apreciar elementos que de outra forma nos passam despercebidos. Seja ver uma imagem numa mancha, fechar os olhos e ter um flash de imagens e cenários que nos vêm do inconsciente, apreciar qualidades artísticas que não conseguíamos ver ou fazer e também ligações entre ideias ou conceitos que pareciam desvinculados. 

Mas sobretudo, supreende-lhe aquela sensação de desdobramento, em que parece que somos duas pessoas: aquela que acede a esta sensibilidade e criatividade, e a outra que observa de fora e se assombra com estas percepções. 

 Noutro blog seu recolhe diferentes experiências positivas que a gente tem com a marijuana sendo um intensificador de sensações visto o seu valor criativo. Se entrares no blog verás que há vários artígos escritos por um tal Mr. X, que não era senão o conhecido Carl Sagan, amigo íntimo de Lester. Foi precisamente Sagan, fumador de marijuana desde os anos 30, quem o incentivou a ter numerosas ocasiões em que se fumava erva. Sagan colaborou estritamente com a redacção de vários textos mais conhecidos de Grinspoon.

Se quiseres ficar a par de novas opiniões, inquietudes e descobrimentos de Lester Grinspoon na actualidade, para além de ver os seus blogs, podes segui-lo no Facebook. 

Propomos-te também a ver o excelente documentário Clearing the Smoke: The Science of Cannabis. Altamente recomendado! Lamentavelmente não há nenhuma versão disponível com legendas. 

Mais ainda, sabias que o banco de sementes Barney's Farm tem uma sativa que foi baptizada de  Dr. Grinspoon em honra a Lester? 

Foto retirada do seu perfil de Facebook. Cartel de Canábis Culture Awards.